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TRANSGÊNICOS - PARECER ECOLÓGICO


ANDREAS ATTILA DE WOLINSK MIKLÓS*


 
1. ALIMENTOS TRANSGÊNICOS, NUTRIÇÃO E SUBDESENVOLVIMENTO HUMANO

Os Reinos Mineral, Vegetal, Animal e Humano


O mundo do vivo representa uma miríade de formas e ritmos decorrentes de complexa interrelação entre forças supra-sensíveis de origem cósmica e telúrica e matéria. O efeito da luz do sol ao tocar o mineral traduz-se em cor (efeito). No mundo vegetal, a luz , além de "tocá-lo por fora", como que desaparece em seu interior; o efeito é "geração de vida" ("vida" = primeiro âmbito supra-sensível ). A planta não cresce indefinidamente; cessa seu crescimento enquanto desenvolvimento de forma e flor que manifesta cor e aroma. No animal e no homem; circunscrito por uma pele, vive um metabolismo; na cabeça localizam-se órgãos de sentido, base física viva no estabelecimento de emoções e sentimentos (segundo âmbito supra-sensível). No Ser Humano em vigília, além de um corpo físico vivo, onde se manifestam sentimentos, vive uma individualidade plena de intenções (terceiro âmbito supra-sensível), mais ou menos consciente e livre, dependendo do quão desperto está em relação a si própria e ao mundo exterior que a cerca. Matéria e forma viva no planeta Terra refletem, portanto, íntimas associações de organizações de mundos criativos polares, de um lado, um mundo supra-sensível, cósmico e, de outro, um mundo sensível, material, telúrico.
A domesticação das plantas alimentícias

A domesticação das plantas alimentícias "data de Zaratustra", na antiga Pérsia. De lá, até a domesticação da nossa mandioca pelos indígenas, filhos da terra, passando pela domesticação do milho pelos seus irmãos vizinhos; tudo isso se tratou, na realidade, de uma "co-evolução". Plantas alimentícias e "filhos da terra" co-evoluiram, sem manipulação vegetal de "dentro para fora". E, nesta domesticação se inseriu, muito provavelmente, uma "intencionalidade" humana configurada a partir de uma consciência particular dos povos envolvidos (nossos ancestrais), de uma lado, os indígenas e de outro, aqueles das antigas culturas civilizatórias, onde nos pensamentos se associavam uma vida intuitiva pertencente a um mundo espiritual, de fatos, forças e seres espirituais. Tais seres humanos, privados de liberdade, se orientavam conforme se ditavam as regras a partir de um mundo espiritual. É evidente, portanto, que, se aceitarmos a realidade gnosiológica da época, e não os considerarmos a partir da nossa consciência racional atual - objetiva e espectadora e dissociada de uma realidade essencial, como preconiza Kant - em um tal processo de concepção de gênero alimentício, pode-se atribuir junto ao processo de concepção do "vir a ser vegetal" a confluência de forças arquetípicas de um mundo supra-sensível, cósmico e espiritual em íntima associação com matéria e forças arquetípicas telúricas (terrestre). Agora, enquanto cientistas, que buscam verdade no mundo, falta-nos ainda demonstrar se tal "intencionalidade" ou "sentimento anímico" provoca alguma influência junto à concepção de determinada forma e conteúdo de gênero alimentício. Principalmente, se se direciona tal intencionalidade à nutrição e desenvolvimento humanos. O trigo foi domesticado na antiga Pérsia sob o símbolo "no Sol vive o Grande Espírito Ahura Mazdao, que deverá descer à Terra" e no culto cristão se transubstancia o pão em carne e o vinho em sangue. "Mesmo que, ainda, em tempo, não nos auto-superamos o necessário, rumo à fraternidade entre os corpos; quesito este evolutivo e de desenvolvimento humano".
Manipulação transgênica e processo criativo humano

Na manipulação transgênica da planta mexe-se nos genes. Assim, de "dentro para fora " determina-se seu vir a "Ser Vegetal". Ao se mexer dentro da planta, a partir da manipulação transgênica, com o objetivo de determinar seu "vir a ser"; as ações aí inseridas, se revestem de intenções e impulsos humanos. Ações humanas se processam a partir da volição ou da força de vontade do homem (pólo membro-metabólico); estabelece-se, uma ponte entre a vontade, o pensar e o agir. Criações humanas resultam de tais processos.
Nutrição humana, modo de concepção e qualidade de gênero alimentício

A nutrição humana num sentido mais amplo envolve não apenas a digestão física do alimento. Ela inclui também a respiração, os sentidos e, mais importante ainda, no caso em questão, a "digestão" daquilo que não é sensorialmente percebido no alimento, e que é do âmbito do vivo; "a vida no alimento". Quando o alimento apodrece sua vida se esvai, permanece somente o mineral morto ou a matéria sem vida, sobra apenas o esqueleto, que se desmantela. Numa agricultura sadia a qualidade desse elemento vivo presente no alimento deve receber o conceito de "vitalidade". Tal vitalidade depende sobretudo do modo de concepção do gênero alimentício, ou seja, de como ele foi cultivado (modus operandi; sistema agrícola). Pode-se facilmente vivenciar tal conceito ao se comparar alfaces cultivadas sob o método biodinâmico (selo Demeter) com o método hidropônico ou da agricultura convencional de insumos sintéticos e tóxicos à vida e verificar sob que método, a vida se esvai mais rapidamente após a colheita, ou seja, qual alface apodrece primeiro. Na alimentação humana "vida reproduz vida". A partir do vegetal, capta-se vida de primeira geração; gerada diretamente a partir da luz do sol. Ao comermos carne, alimentamo-nos de vida de segunda geração.
Nutrição, percepção humana e desenvolvimento de autonomia

O alimento físico ingerido é então processado na digestão; desmontam-se estruturas concebidas previamente por uma natureza criadora de formas do vivo. O organismo humano não desmonta o alimento (estrutura) tão somente para poder absorvê-lo, mas também e, sobretudo, para apreender a sua reconstrução agora sob um novo desígnio; o da tessitura de tecidos e órgãos em íntima adaptação ao que deve vir a ser próprio da sua individualidade ou do desenvolvimento de sua autonomia. Sob um tal princípio de reconstrução de tecidos humanos é que se constituem os tecidos e órgãos responsáveis nos seres humanos por tudo que envolve a percepção humana; ou seja, por tudo que envolve a percepção de si próprio ou do mundo em derredor. Pois, é assim que se constituem os tecidos e órgãos do homem neuro-sensorial: cérebro e sistema nervoso. O quanto o modo de concepção do gênero alimentício influenciará a nutrição humana e, subseqüentemente, o despertar do ser humano ou a sua capacidade de perceber o que vive de vivo na natureza e em si próprio, no ser humano.
Nutrição e intencionalidade humana

Ao se ingerir um vegetal, ingere-se ao mesmo tempo, além do esqueleto carbônico, a "vida" associada. Essa não tem como ser desmontada em moléculas menores; é "pura força da luz do sol transformada"; é pura "informação codificada". Código que informa sobre processos criativos; para que "o que vive, viva em tudo o que vive, o que atua, atue em tudo enquanto atua, e o que leva tudo o que vive para morte, renasça de novo". O que ocorre no ser humano a partir da "digestão" desse elemento "do âmbito do vivo" considerando, evidentemente, todo seu processo biográfico? O quanto tal "código informativo" de processo criativo absorvido de um mundo natural criador de vida inserido no alimento vegetal se liberará no metabólico humano (pólo da vontade) enquanto arquétipo de co-criação, que estabelecendo uma ponte com o mundo dos pensamentos resultarão em ações frutíferas humanas no mundo concreto; todo este destino, Sr. Presidente da República, o senhor tem em suas mãos. O quanto o modo de concepção do gênero alimentício influenciará, a partir da nutrição, os impulsos humanos à montante de suas criações; todo este destino.
Num balanço preliminar de tais criações humanas, o mundo atual em avançado processo de degradação natural e social, já dá testemunho de um dominante processo global centrado em impulsos de auto-interesse; e que parecem, ilusoriamente, intransponíveis.
Transgenia, auto-interesse e processo morte

Num cultivo transgênico, concebe-se um gênero alimentício, enquanto forma e conteúdo, fortemente dissonante em relação aos processos criativos da natureza e do cosmos. Na natureza, esse "ser vegetal" manipulado geneticamente passa, então, de fato, a ser fortemente atacado por pragas, doenças e inços, de tal maneira, que é preciso impedir tais ataques com biocidas de alta toxicidade à vida. O que evidencia, portanto, o quanto tal "ser vegetal" manipulado pela intencionalidade racional humana objetiva que aí se associa se distancia de um real processo de geração de qualidade e intensidade de vida na natureza.
Além da fundamental pobreza em possibilidades de desenvolvimento de vida da planta transgênica, o quanto esse vir a ser "vegetal - alimento" configurado de arquétipos de co-criação provenientes dos impulsos humanos ali inseridos se distribuirá aos povos; todo este destino, que impulsos são esses?
Auto-interesse e erosão social e da natureza

Esses impulsos são aqueles que perpassam seres humanos, com destacado poder decisório e de criação, e que estão no comando das empresas envolvidas. Instituições transcontinentais que, na realidade, ao exercerem forte doutrinação nos mais variados âmbitos, dentre outras coisas, fomentam uma agricultura de alto impacto biocida. Em tais impulsos não se pode constatar uma gota sequer de altruísmo, muito menos de solidariedade.... Muito pelo contrário, tais ações são focadas, sobretudo, a partir do auto-interesse: fusões, concentração de capital, patentes de "know how", patentes de organsimos vivos, exercício de poder de dominação.... Impulsos, aliás, extremamente difundidos no mundo atual globalizado, que norteam as atividades humanas no planeta e que originam, em última instância, o crescente quadro aberrante de erosões do tecido social - exclusão do homem - e da natureza (erosão do solo; poluição da água; eliminação de biodiversidade; camada de ozônio e efeito estufa). Impulsos esses, de gnosiologia correspondente, que geram a jusante um "processo global moribundo".
Considerações finais

Tais são, portanto os impactos da alimentação transgênica, que o senhor e eu e, tampouco nossos netos, se farão sentir. O que aqui se descreve passa-se por despercebido; tamanha será as gerações necessárias para a acentuação da encarnação do processo. E, muito provavelmente, processo esse, talvez, inevitável, tamanha é as forças envolvidas no bojo do processo de evolução do ser humano. Processo que se desenvolve silenciosamente, aquém da escala de observação da ainda tão medíocre e míope ciência analítica. Bilhões de pessoas distanciar-se-ão cada vez mais do desenvolvimento sediado no princípio universal. Aquele que desafia o homem a superar-se a si próprio a partir de um processo de auto-conhecimento e auto-desenvolvimento. Aquele que desafia o homem a praticar a fraternidade entre os corpos; quesito indissociável do desenvolvimento humano e do futuro dos povos.
Com o modo de concepção de gênero alimentício transgênico, perder-se-á progressivamente a possibilidade natural de entretecimento de uma "corporalidade" cada vez mais adaptada à necessidade evolutiva da essência da individualidade humana; desse ser de dois mundos, sensorial e supra-sensorial. Entretecer-se-á paulatinamente uma "corporalidade" humana cada vez mais "telúrica"; empobrecida em arquétipos cósmico-espirituais.
Assim o deseja a parcela humana que o doutrina e a outra, inconsciente, adormecida, assim se aprisiona. Transgenia e clonagem humana, o par perfeito, tornarão verdade a inverdade do homem de alma perene prisioneira ao corpo: o homem-matéria.

*Andreas Attila de Wolinsk Miklós, 42, Doutor pela Universidade Paris VI, é Professor do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" e do Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental, da Univeersidade de São Paulo. Obs: Carta aberta ao sr. Presidente da República.

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