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O lado escuro da comida
A indústria da comida nunca produziu tanta tranqueira. Seu  prato polui mais que o seu carro. E estamos sendo envenenados por  pesticidas. Ou não? Descubra o que é verdade e o que é mentira nas  intrigas que rondam os alimentos 
por Claudia Carmello, Barbara Axt, Eduardo Sklarz e Alexandre Versignassi da super interessante

Frango. Água. Maisena modificada. Soda para cozimento. Sal. Glicose.  Ácido cítrico. Caldo de galinha. Fosfato de sódio. Antiespumante  dimetilpolissiloxano. Óleo hidrogenado de 
soja  com antioxidante TBHQ. Isso agregado a mais 26 ingredientes é o que  conhecemos pelo nome de nugget. A receita é produto de um sistema que  faz de lasanha congelada a tomates mais ou menos do mesmo jeito que se  fabricam canetas, ventiladores ou motos. É a agropecuária industrial.  Ela começa nos combustíveis fósseis. Petróleo carvão ou, mais comum  hoje, gás natural são a matéria-prima dos fertilizantes. E os  fertilizantes são a matéria-prima de tudo o que você come hoje, seja  alface, seja dois hambúrgueres, alface, queijo e molho especial - no pão  com gergelim.
Verdade - Fertilizante mata
Mata peixes, não pes-soas. Mas mata. Resíduos de fertilizante vão parar  em rios, e daí para o mar. Lá eles fertilizam algas e elas crescem. Mas  isso não é bom: quando elas morrem, sua decomposição rouba oxigênio da  água. E os peixes sufocam. São as chamadas zonas mortas. Existem quase  400 delas nos mares.
Sem eles para anabolizar as plantações, não haveria 
comida  para todo mundo. O problema é que, com eles, podemos ficar sem mundo.  "Na porteira da fazenda, ainda antes do uso, um saco de 100 quilos de  fertilizante químico já emitiu 4 vezes esse peso em CO2 para ser  fabricado. Depois que aplicam no solo, pelo menos 1 quilo daquele  nitrogênio (elemento principal do fertilizante) é liberado para o ar em  forma de óxido nitroso, um gás quase 300 vezes pior para o aquecimento  global do que o CO2", diz o agrônomo Segundo Urquiaga, da Embrapa. Nessa  toada, a agropecuária consegue emitir sozinha 33% dos gases-estufa do  mundo, mais do que todos os carros, trens, navios e aviões juntos, que  somam 14%. 
Além disso, os fertilizantes deixam resíduos debaixo da terra que chegam  aos lençóis freáticos e acabam no mar. Mas isso é pouco comparado ao  que a 
comida moderna pode fazer ao seu corpo. Voltemos ao nugget.
VOCÊ É FEITO DE MILHO E SOJA
Os empanados de frango são um dos ícones da 
indústria  de alimentos, baseada, como qualquer outra, em mecanização,  uniformização, produtividade. Essas exigências levam a um fato curioso:  há quase 40 ingredientes diferentes em um nugget, mas 56% dele é milho. 
A maisena é farinha de amido de milho - o ácido cítrico, a dextrose, a  lecitina, tudo é feito com moléculas desse grão. Ou com grãos de 
soja, dependendo do que estiver mais em conta no mercado de commodities agrícolas (pensando bem, até a galinha é feita de milho e 
soja - é isso que ela come de ração. Metade da área plantada no Brasil é dominada pela 
soja, que aparece em 70% dos alimentos processados. E um terço das plantações americanas são lavouras de milho Isso acontece porque 
soja  e milho produzem mais calorias que a maioria das plantas; são  resistentes ao transporte e a anos de estocagem, entre outras vantagens  competitivas. 
Mas qual é o problema de chegar a essa variedade de 
comida com apenas dois grãos? Os bois podem dar uma primeira resposta. 
No mundo desenvolvido, praticamente toda a carne sai das fazendas de  confinamento - galpões onde os bois passam a vida praticamente  empilhados uns nos outros, só engordando. Nesses galpões, a 
comida do boi não é capim, mas ração à base de milho e 
soja.  O inconveniente é que ele não come grãos. Industrialmente falando, um  boi é uma máquina que transforma celulose de capim (algo que o nosso  organismo não digere) em proteína comestível - a carne dele. Mas capim é  bem menos calórico que milho e 
soja.  Para ele crescer rápido e ir logo para o corte, tem que ser ração  mesmo. Só que o metabolismo do bicho pena para processar tanta 
comida  indigesta. A fermentação dos grãos no sistema digestivo dele pode  causar um inchaço do rúmen (o estômago do boi) que pressiona os pulmões e  pode matar o animal. Para combater isso, os criadores enchem os bois de  antibiótico: 70% dos antimicrobiais usados nos EUA são misturados às  rações de animais. O problema é que isso cria superbactérias resistentes  a antibióticos. É Darwin em ação: os antibióticos nem sempre matam  todas as bactérias. Às vezes sobram algumas que, por mutação genética,  nasceram imunes ao remédio. Sem a concorrência de outras bactérias, elas  se reproduzem à vontade. Nasce uma cepa de micro-organismo mais  resistente a qualquer antibiótico. Ela podem ser letal. Ainda mais se  for parar na prateleira do supermercado.
Foi o que aconteceu com uma variedade agressiva de Escherichia coli. Em  2001, o garoto americano Kevin Kowalcyk, de 2 anos de idade, comeu um  hambúrguer contaminado por essa bactéria e morreu 12 dias depois. O caso  produziu algo inusitado: um recall de hambúrguer.
No Brasil isso não é um problema. Só 6% do nosso abate vem de  confinamentos, contra 99% nos EUA. Aqui os bois ficam soltos. Bom para  eles, pior para as bactérias. Mas pior também para as florestas. Nossos  pastos são formados à custa de desmatamento da Amazônia e do cerrado. E  isso leva o Brasil ao posto de 5º maior emissor de CO2 do mundo. Quase  52% dos nossos gases-estufa vêm do desmatamento. Para frear isso de  forma realista (porque parar de criar bois e de exportar carne não tem  nada de realista), a solução é o confinamento. Só que essa modalidade de  criação também não é a panaceia para o ambiente. Os galpões de gado  causam tantos impactos quanto uma cidade grande: lixo, esgoto, rios  poluídos... Até mais, na verdade. Só os animais confinados que existem  hoje nos EUA produzem 130 vezes mais dejetos do que todos os americanos  juntos. 
Todo esse cocô vai para grandes lagos de esterco, que servem de parque  aquático para bactérias: elas podem passar desses lagos para o solo de  uma lavoura. Podem e conseguem. Só de recalls de vegetais contaminados  por E. coli já foram 20 na última década nos EUA. Em 2009, um surto de  salmonela matou 8 pessoas e adoeceu 600 por lá. Grave. Mas não deixam de  ser casos isolados. O maior problema da 
comida hoje é outro: o fator Roberto Carlos. 
IMORAL E ENGORDA
O Rei estava certo quando disse que tudo o que ele gosta é imoral, ilegal ou 
engorda. 
Comida  gostosa, mas gostosa mesmo, viciante, só é boa porque é calórica - os  aspargos que nos perdoem, mas gordura e açúcar são fundamentais. Não  para a saúde, mas para o cérebro. Ele gosta mesmo é de porcaria. Nosso  cérebro nos recompensa com doses de dopamina cada vez que comemos algo  bem calórico, energético. É que no passado isso era questão de  sobrevivência - havia pouca 
comida  disponível, então quanto mais calórica ela fosse, melhor. A massa  cinzenta dá essa mesma recompensa dopamínica depois do sexo ou de drogas  pesadas. Por isso mesmo basta experimentar qualquer uma dessas coisas  uma única vez para ter vontade de repetir. Com comidas energéticas,  recheadas de carboidratos ou gorduras, não é diferente, você sabe. É  impossível comer um só.
Mito - Frango com hormônio
Uma das lendas mais persistentes é a de que o frango é entupido de  hormônios. E que esse hormônio pode ser letal para nós. Não. Não rola  hormônio. "O segredo para o frango crescer tão rápido está na genética",  diz o engenheiro agrônomo Gerson Neudí Cheuermann, da Embrapa. A  fórmula da ração do frango não é segredo: além de milho, soja e  minerais, entram aminoácidos produzidos em laboratório (metionina e  lisina), que servem de fato para bombar o galináceo, mas não fazem mal  para quem come.
E a 
indústria  dos alimentos se formou justamente em torno das comidas que mais  liberam dopamina. Isso começou no final do século 19, com o início da  produção em massa de açúcar e farinha de trigo refinada. Refinar uma  planta significa estirpá-la de suas fibras, proteínas, minerais e deixar  só o que interessa (pelo menos do ponto de vista do cérebro):  carboidrato puro, energia hiperconcentrada. Depois vieram conservantes  mais potentes (como o antiespumante e o antioxidante lá do nugget) e o  processamento artificial, com máquinas que transformam carcaças de  bichos e um monte de subprodutos de milho e de 
soja em coisas bonitas e de sabor viciante. Começava a era da 
comida industrializada. A nossa era.
E a produção de alimentos nunca mais seria a mesma. O cérebro do consumidor guia a 
indústria dos alimentos. Esse cérebro prefere 
comida turbinada por açúcar e gordura, certo? Então a seleção natural age de novo, mas dessa vez no mercado: só sobrevive quem produz 
comida mais gostosa. E a mais gostosa é a gorda (olha o Robertão aí de novo!). Natural, então, que o mercado de 
comida  processada acabasse dominado por bombas calóricas. Nosso amigo nugget,  por exemplo, recebe doses extras de gordura (óleo hidrogenado de 
soja) e também de açúcar (a glicose). Mais do que alimentar, a função dele é dar prazer. 
Mas é um prazer que pode custar caro. Um "suco natural" industrializado,  por exemplo, pode ter até duas colheres de açúcar para cada 200  mililitros. Nosso corpo não é adaptado para suportar doses cavalares  como essa o tempo todo. A produção de insulina, por exemplo, pode  sobrecarregar e dar pau - e sem esse hormônio, que gerencia o  processamento de acúcar no organismo, você se torna diabético. 
Nos EUA, 1 em cada 10 adultos tem diabetes - duas vezes mais do que em  1995. E a perspectiva é que essa proporção triplique nas próximas  décadas, agora que 1,6 milhão de novos casos são diagnosticados por ano.  Para completar, 70% da população é considerada acima do peso. E nós  aqui no Brasil estamos indo por esse caminho. Quanto mais a economia  cresce, maior fica a nossa cintura. No meio dos anos 70, quando o IBGE  mediu pela primeira vez o peso da população, 24% dos brasileiros estavam  acima do peso. Hoje são 50%.
O aumento de peso pode ser o resultado mais visível de uma dieta  inadequada. Mas quem está na parcela sem pneuzinhos da população também  corre riscos. Principalmente por causa de outro ingrediente-chefe da 
comida  industrializada: o sal. "A maior parte do sal que a gente consome não  está nos saleiros, mas nos alimentos processados" diz Michael Klag,  diretor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade John Hopkins, nos  EUA. O sal é adicionado para ajudar a preservar o produto e,  principalmente, reforçar o sabor. E ele acaba onde você menos espera.  Está nos cereais de café da manhã e até nos achocolatados - para deixar o  chocolate menos enjoativo.
A Organização Mundial da Saúde recomenda o consumo de, no máximo, 6  gramas de sal por dia para evitar pressão alta - e as doenças que ela  causa. Os brasileiros comem o dobro disso. De acordo com a Ação Mundial  pelo Sal e pela Saúde, uma organização que reúne membros em 81 países  para tentar diminuir o consumo global de sal, se a população mundial  comesse apenas os tais 6 gramas de sal por dia, haveria 24% menos casos  de ataques cardíacos pelo mundo e 18% menos derrames.
Os hábitos alimentares de hoje podem estar contribuindo também para um  aumento em alergias alimentares e doenças intestinais. Para você ter uma  ideia, o número de pessoas internadas em hospitais por causa de  alergias nos EUA quadruplicou entre 2000 e 2006 (de 2 600 para 9 500  pessoas por ano). O maior suspeito aí é a falta de fibras da 
comida industrializada.
Uma pesquisa liderada por Paolo Lionetti, da Universidade de Florença,  analisou a flora intestinal de crianças italianas e comparou com a de  garotos de Burkina Fasso, na África, que têm uma dieta rica em fibras e  nunca viram 
comida  processada. Então descobriu que as crianças africanas tinham uma flora  intestinal mais variada, capaz de protegê-las de uma série de doenças.  "Acredito que a dieta dos países ocidentais tem um papel importante no  aumento das alergias e infecções intestinais", diz Paolo.
Os nuggets, pizzas congeladas e cia. não são o único problema. A 
comida  reconhecidamente saudável também tem seus pontos fracos. Dados dos  governos americano e inglês mostram quedas nas quantidades de ferro,  vitamina C, riboflavina, cálcio, zinco, selênio e outros nutrientes em  dezenas de colheitas monitoradas desde os anos 50. Hoje, você tem que  comer 3 maçãs para ingerir a mesma quantidade de ferro, por exemplo, que  uma maçã fornecia. São várias as razões que poderiam justificar esse  fenômeno. Parte da explicação pode vir dos critérios que usamos no  melhoramento genético, selecionando variedades de milho, 
soja  e outras plantas segundo a produtividade, não a qualidade nutricional.  Pior: nossas plantas criadas à base de fertilizantes, como crescem mais  rápido, têm raízes menores e menos tempo para acumular nutrientes além  daqueles que vêm no próprio fertilizante. Mais: poupadas de lutar contra  insetos pelo uso de pesticidas, estariam produzindo menos polifenóis -  substâncias que usam como mecanismo de defesa e que nos beneficiam por  suas ações anti-inflamatórias e antialérgicas.
VENENO NA FEIRA
Tão fundamentais para a agricultura moderna quanto os fertilizantes são  os pesticidas. Ainda mais com as monoculturas sem fim de hoje. Imagine o  que acontece quando um inseto que tem na raiz da 
soja  seu prato preferido topa com hectares e mais hectares onde só existe  essa planta? Ele não arreda mais o pé dali, se reproduz vertiginosamente  e traça tudo o que vê pela frente: eis uma praga agrícola. Elas não são  novidade. Mas claro que, com a demanda por alimentos que existe hoje,  seja ou não 
comida industrializada, não dá para abrir mão deles.
Verdade - Dá para se proteger dos agrotóxicos veja como:
1. Prefira produtos locais
Frutas importadas, por exemplo, terão mais químicos para suportar a viagem e chegar em bom estado ao Brasil. 
2. Lave as frutas com esponja
Só água pode não ser o bastante para tirar os resíduos de pesticida.
3. Compre produtos da época
As frutas que não são da estação recebem mais agrotóxicos para durar além da conta.
4. Evite a beleza exagerada
Desconfie da fruta que parece obra de arte. Ela pode ter recebido mais agrotóxicos.
No Brasil, menos ainda. O surgimento de novas pragas, como a ferrugem de 
soja  (um fungo nocivo), transformou o país no maior consumidor de  agrotóxicos do mundo. Superamos os EUA nesse quesito em 2008, quando o  mercado de defensivos agrícolas movimentou mais de US$ 7 bilhões no  país. A façanha tem consequências. Em junho passado, a Agência Nacional  de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou o relatório anual sobre a  presença de resíduos de agrotóxicos nas frutas, verduras, legumes e  grãos que o brasileiro consome. Das 3 130 amostras de 20 culturas de  alimentos estudadas pela agência em 2009, 29% apresentaram alguma  irregularidade. Mas não é motivo para pânico. "O fato de um 
alimento  apresentar resíduos de pesticida além do limite estabelecido não indica  necessariamente risco para a saúde", diz a toxicologista Eloisa Caldas,  da Universidade de Brasília. O ponto, segundo ela, é evitar uma dieta  monótona. Quanto mais variada sua alimentação, menos chance você tem de  comer o mesmo pesticida. E isso diminui o risco de intoxicação. 
Mais seguro ainda é comprar alimentos orgânicos. Eles não recebem veneno  em nenhum momento, desde o plantio até a gôndola do supermercado. Nem  veneno nem fertilizante químico. Então são mais saudáveis para o  ambiente. E a quantidade de nutrientes por centímetro cúbico é maior. O  problema é que a produção da lavoura orgânica é, em média, 30% menor que  a convencional - e os vegetais que saem dela acabam 30% mais caros. 
Estudos mostram que, mesmo assim, daria para alimentar o mundo só com  orgânicos. Mas só se o consumo de carne diminuir. O que uma coisa tem a  ver com a outra? É que boa parte do que plantamos é para alimentar  animais de criação. Uma peça de picanha, por exemplo, exige 75 quilos de  vegetais para ser produzida. Só que o mundo está cada vez mais  carnívoro - a China, depois de ter virado a 2ª maior economia do mundo,  passou a comer 25% de toda a carne do planeta. Hoje temos 20 bilhões de  animais de criação, e a perspectiva da ONU é que esse número vá dobrar  até 2050.
Até existe um tipo de carne que não depende nada das plantações: os  peixes selvagens. Mas eles não são a alternativa. Primeiro, porque os  mais nobres estão acabando. Algumas espécies de atum e de bacalhau não  devem escapar da extinção. Segundo, porque existe o perigo da  contaminação por mercúrio, pelo menos para quem come certos peixes com  frequência.
Cuidado: até os peixes mais saudáveis podem estar contaminados.
Nível de mercúrio  
Quanto mais alta a concentração, maior o perigo para quem come com frequência*  
Moderado
Atum em lata
Bacalhau
Alto
Atum DE SUSHI
Anchova
Muito alto
Cação
Peixe-espada
Funciona assim: embora o metal possa ser encontrado em todos os  ambientes, é no meio aquático que mora o perigo. Graças à ação de  bactérias, sobretudo em zonas alagáveis, o mercúrio é transformado em  sua forma orgânica e mais perigosa: o metilmercúrio. Nessa versão, ele  penetra nas algas. As plantas aquáticas têm baixo teor de mercúrio, mas  os peixes herbívoros (que se alimentam dessas plantas) têm um pouco  mais. E os predadores (que comem os herbívoros) acabam com um índice bem  maior. Quanto mais perto do topo da cadeia alimentar, mais contaminado  tende a ser o peixe. Não significa que todo peixe grande esteja  contaminado. Se ele vive numa região livre de mercúrio, o que é comum,  não tem problema. Mas claro: quem vê cara não vê contaminação. Você só  tem como saber o estado dos peixes que comeu se acabar intoxicado - os  sintomas são tremores, vertigem, perda de memória, problemas digestivos e  renais, entre outros. Não, não precisa parar de comer esses peixes, só  ter alguma moderação (veja no quadro). Mas o risco não deve diminuir - o  mercúrio é um resíduo das termelétricas. E a maior parte do mundo ainda  é movida a carvão...
Peixes contaminados, overdose de gordura e açúcar, fertilizantes que  dependem de combustíveis fósseis e destroem ecossistemas... Estamos no  fim da linha, então? Sim. 
Mas já estivemos antes. Ontem mesmo era 1960, o mundo tinha 3 bilhões de  habitantes e uma certeza: estávamos à beira de um colapso. Mais um  pouco e não teria 
comida para todo mundo. Mas não. Chegamos a 6,5 bilhões de pessoas graças justamente à globalização dos fertilizantes e da 
comida  industrializada - a produção em massa barateou os alimentos. Esse boom  alimentício ficou conhecido como Revolução Verde. Agora, precisamos de  mais revoluções. Uma, a da conscientização sobre os perigos do fast food  e da 
comida  processada, já começou. E a ciência tem feito seu papel também,  pesquisando alternativas que vão de plantas geneticamente modificadas  que dispensam fertilizantes e pesticidas até carne de laboratório - um  meio de entregar proteínas sem o intermédio de animais. Seria uma  espécie de segunda Revolução Industrial da 
comida. Não sabemos como nem quando ela vai acontecer. Mas há uma certeza: não podemos ser bestas de esperar pelo colapso.
Mito - Salmão com corante
O salmão é um peixe branco por natureza. O rosa vem da astaxantina, um  pigmento que existe em algas microscópicas. Primeiro o camarão come  essas algas, depois o salmão come o camarão e fica rosado. Só que os  peixes criados em tanques não comem camarão. Deveriam ficar brancos a  vida toda. Mas não. Eles são rosa também (menos, mas são). Corante? Não  exatamente: o que fazem é colocar astaxantina na ração dos peixes - ela  pode ser sintética ou vir daquelas microalgas mesmo.
• Cada 100 quilos de fertilizante químico emite 540 quilos de Co2 para ser fabricado.
• 1/3 das emissões de gases-estufa vem da agropecuária.
• Em 1940, gastávamos 0,5 caloria de combustível fóssil para produzir 1 caloria de comida, hoje gastamos 20 vezes mais.
• Hoje, A área desmatada na Amazônia para criar GADO equivale à de 100 cidades de São Paulo.
• 2/3 de todos os antibióticos fabricados nos EUA vão para a alimentação do gado. Isso cria superbactérias.
• 80% do pimentão vendido no Brasil tem mais agrotóxico que o permitido.
• Depois vêm: 56,4% - UVA / 54,8% - PEPINO / 50,8% - MORANGO
• As frutas anabolizadas por fertilizantes têm menos nutrientes como ferro, vitamina C, cálcio e zinco que as orgânicas.
* Mesmo o consumo diário pode não trazer riscos. Mas, se alguns desses  peixes formam a base da sua alimentação, vale conversar com um médico  sobre os perigos. ** Os mais usados nos restaurantes japoneses são o  atum-branco e atum-amarelo. O de lata costuma ser da espécie skipjack,  menor (e menos suscetível ao mercúrio).
Para saber mais  
O Dilema do Onívoro
Michael Pollan, Intrínseca, 2007.
Uma História Comestível da Humanidade
Tom Standage, Zahar, 2010.